quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

 
O Adeus ao Seresteiro 
                                                                                             Por Claudete Cerqueira

A vida me concedeu a alegria de conhecer o Sr Ivan Mury!
 
Lembro-me sempre do quanto era bem recebida em sua casa, por ele e Dona Lucy, casal que irradiava simpatia, simplicidade e bom acolhimento.
 
Dona Lucy sempre sorridente e Sr Ivan na sala, imponente, sentado com uma postura impecável, segurando o seu violão como quem carrega o mais nobre dos troféus!!! 

Meus olhos se apressavam em correr atrás de seus dedos velozes que lindamente dedilhavam "saudade do matão" e muitos outros  belos clássicos da música popular brasileira! 

Ficava ali desfrutando aquele momento mágico e admirando a perfeição da técnica daquele violonista virtuoso, um concertista de alto padrão digno de uma plateia do Teatro Municipal do Rio de Janeiro ou de qualquer outra grande capital. No entanto esse músico de primeira linha, de olhos claros e voz rouquinha nunca estudou num conservatório ou numa escola de música.

Já nasceu pronto, como nascem os bem dotados e abençoados por Deus! Seu violão era o grande companheiro das horas de folga após a longa jornada de trabalho em suas fazendas. E seu melhor amigo, também violonista renomado e fazendeiro, o ilustre René Zanelli era o seu melhor amigo e o seu maior parceiro, na vida e na música. Amizade verdadeira de uma vida inteira! 

A serenidade sempre foi, a meu ver, a característica mais marcante do  Sr Ivan Mury. Conseguia administrar trabalho, vida familiar, negócios, amizades e seu amor à música com total maestria.
Manteve uma sociedade harmoniosa e próspera com seus dois irmãos Ênio e Guaraná e expandiram seus negócios adquirindo mais fazendas também na Bahia, porém sempre mantendo as de Itaperuna.

De seu casamento feliz com Dona Lucy Tinoco nasceram os três filhos: Wellington Jorge Ivan e Ivone. Depois vieram os netos e os bisnetos. 

A filha caçula Ivone, certamente soube se apoderar da herança que lhe deixou seu pai: a de saber levar a alegria aonde quer que ela vá...e muito aprendeu sobre o valor da família e da amizade.

Como afirma o René Zanelli:"Ivan tinha o dom de abrir as portas para os amigos. Era como um irmão mais sábio,que conquistava , que intermediava e conciliava.” 

Ao pensar na vida do Sr Ivan ainda  me lembro de  algumas conversas que tivemos e de uma frase que ele dizia:
" ­­­­­­– Onde chegamos com a música levamos alegria e ganhamos novos amigos !"

Seu compositor favorito era Dilermando Reis e sua música preferida ABISMO DE ROSAS.
Também me lembro carinhosamente da música que ele me pediu para cantar enquanto tocava ao violão: "Bate outra vez com esperanças o meu coração...."
Cantamos juntos por algum tempo essa e outras músicas e foi muito bom!

O coração dele parou no dia 6 de outubro de 2012, ao lado da dedicada acompanhante dona Elma, após longos meses de luta e sofrimento deixando muita saudade e a certeza de que marcou sua presença entre nós e muito contribuiu para a cultura itaperunense. 
Mas meu coração continua batendo forte, cheio de esperança que ele, o nosso seresteiro romântico, continue dedilhando suas valsas no paraíso, na casa de Deus e ao lado de Lucy, seu grande amor!

Adeus Seresteiro!
 
                   Por Claudete Cerqueira/Estilo Off, Novembro 2012
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