sexta-feira, 21 de dezembro de 2012




Um pouco de mim‏
                                                                                                         Por Claudete Cerqueira


Mais um ano se passou e sempre vem uma certa nostalgia do tempo que se foi e alguma excitação com o novo tempo  que  virá.  Saudades, lembranças, planos e muitas ideias surgem no emaranhado festivo de dezembro que se incumbe em despedir e  saudar  em forma de  confraternização.
Neste ano que se encerra ao pensar nas mensagens que quero enviar, nos familiares que desejo abraçar, nos amigos que quero rever e nas graças concedidas a agradecer encontrei um momento de silêncio dentro de mim. Sim, porque é fácil estar atenta aos pedidos dos outros... buscar corresponder ao que esperam de nós... cumprir obrigações, manter em dia as responsabilidades da vida, pois isso já está no automático, fazemos isso como quem escova os dentes ao acordar. Difícil mesmo é priorizar esse momento de encontro em que nos conectamos com nosso interior buscando um diálogo interno, que possa nos revelar cada vez com mais clareza aquilo que ansiamos e tenhamos coragem de nos reconhecer e nos enfrentar em nossa ambiguidade!
Que possamos relembrar os momentos em que estávamos fragilizados e não tivemos coragem de lutar...
Ou que estávamos suficientemente seguros para dizer não e seguir em outra direção...
Ou ainda quando tivemos que tomar uma decisão que surpreendeu  e talvez tenha magoado alguém...
Dos medos, insegurança e omissão que talvez tenham roubado de nós mais uma maneira de ser feliz...
Das palavras  pronunciadas de forma descuidada que acabam atingindo ao outro...
Das dores que sofremos e que causamos...
De tudo que fizemos por nós e do que não nos permitimos fazer! Mesmo podendo...
E nesse ir e vir dos caminhos que escolhemos na vida existe uma pausa para pensar, um momento de reflexão para averiguar se realmente estamos indo na direção do que mais importa: do sentido que podemos dar à nossa existência cada vez que temos coragem de dizer sim ou de pronunciar um sonoro não.
Sim, temos esses e tantos outros direitos, mas parecemos sempre comprometidos com os imaginários deveres que ditam uma regra de bem viver que nem sempre se encaixa no que é bom para nós. Então posso me perguntar: qual é mesmo o meu regimento interno de bem estar no mundo? Eu já criei o meu? Eu sigo esses princípios?
Para o mundo dou muito de mim, mas quero nesse Natal um presente muito  simples e especial. Não quero nada que seja comprado, cobiçado ou socialmente supervalorizado. Quero apenas um pouco de mim.
Peço a mim mesma e aos céus que me concedam esse encontro comigo mesma para que eu possa me rever me revelar, me surpreender, me reciclar e continuar me encantando pela vida!
E é desse momento que me apodero para me lembrar que posso continuar fazendo escolhas, desatando meus próprios nós, aprendendo a  fazer acordos internos que me ajudem a  me libertar mais a cada dia para poder seguir em direção  ao sentimento de realização e de felicidade.
E tudo isso é apenas um pouco de mim!
Que neste Natal e em todos outros de sua vida você possa ter muito de você, carregando sempre dentro de si a certeza de ser uma pessoa amada, amiga, bem-vinda e que sua presença faz toda diferença nesse mundo de Deus!
Feliz Natal e um 2013 abençoado para todos vocês!

Por Claudete Cerqueira / Publicado na Estilo OFF/ Dezembro 2012.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

 
O Adeus ao Seresteiro 
                                                                                             Por Claudete Cerqueira

A vida me concedeu a alegria de conhecer o Sr Ivan Mury!
 
Lembro-me sempre do quanto era bem recebida em sua casa, por ele e Dona Lucy, casal que irradiava simpatia, simplicidade e bom acolhimento.
 
Dona Lucy sempre sorridente e Sr Ivan na sala, imponente, sentado com uma postura impecável, segurando o seu violão como quem carrega o mais nobre dos troféus!!! 

Meus olhos se apressavam em correr atrás de seus dedos velozes que lindamente dedilhavam "saudade do matão" e muitos outros  belos clássicos da música popular brasileira! 

Ficava ali desfrutando aquele momento mágico e admirando a perfeição da técnica daquele violonista virtuoso, um concertista de alto padrão digno de uma plateia do Teatro Municipal do Rio de Janeiro ou de qualquer outra grande capital. No entanto esse músico de primeira linha, de olhos claros e voz rouquinha nunca estudou num conservatório ou numa escola de música.

Já nasceu pronto, como nascem os bem dotados e abençoados por Deus! Seu violão era o grande companheiro das horas de folga após a longa jornada de trabalho em suas fazendas. E seu melhor amigo, também violonista renomado e fazendeiro, o ilustre René Zanelli era o seu melhor amigo e o seu maior parceiro, na vida e na música. Amizade verdadeira de uma vida inteira! 

A serenidade sempre foi, a meu ver, a característica mais marcante do  Sr Ivan Mury. Conseguia administrar trabalho, vida familiar, negócios, amizades e seu amor à música com total maestria.
Manteve uma sociedade harmoniosa e próspera com seus dois irmãos Ênio e Guaraná e expandiram seus negócios adquirindo mais fazendas também na Bahia, porém sempre mantendo as de Itaperuna.

De seu casamento feliz com Dona Lucy Tinoco nasceram os três filhos: Wellington Jorge Ivan e Ivone. Depois vieram os netos e os bisnetos. 

A filha caçula Ivone, certamente soube se apoderar da herança que lhe deixou seu pai: a de saber levar a alegria aonde quer que ela vá...e muito aprendeu sobre o valor da família e da amizade.

Como afirma o René Zanelli:"Ivan tinha o dom de abrir as portas para os amigos. Era como um irmão mais sábio,que conquistava , que intermediava e conciliava.” 

Ao pensar na vida do Sr Ivan ainda  me lembro de  algumas conversas que tivemos e de uma frase que ele dizia:
" ­­­­­­– Onde chegamos com a música levamos alegria e ganhamos novos amigos !"

Seu compositor favorito era Dilermando Reis e sua música preferida ABISMO DE ROSAS.
Também me lembro carinhosamente da música que ele me pediu para cantar enquanto tocava ao violão: "Bate outra vez com esperanças o meu coração...."
Cantamos juntos por algum tempo essa e outras músicas e foi muito bom!

O coração dele parou no dia 6 de outubro de 2012, ao lado da dedicada acompanhante dona Elma, após longos meses de luta e sofrimento deixando muita saudade e a certeza de que marcou sua presença entre nós e muito contribuiu para a cultura itaperunense. 
Mas meu coração continua batendo forte, cheio de esperança que ele, o nosso seresteiro romântico, continue dedilhando suas valsas no paraíso, na casa de Deus e ao lado de Lucy, seu grande amor!

Adeus Seresteiro!
 
                   Por Claudete Cerqueira/Estilo Off, Novembro 2012
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