Medos pessoais e culturais que podem nos paralisar
Passamos a infância ouvindo muitas histórias, que é uma forma de introduzir a criança no universo dos sentimentos que carregamos dentro de nós e que, dependendo da forma como são apresentados e posteriormente introjetados, podem nos habitar por toda a vida causando efeitos benéficos ou maléficos.
Alguns contos tentam orientar para a noção de perigo, pois afinal, um pouco de medo é fundamental para que aprendamos a nos proteger, mas dependendo da intensidade, pode-se passar a mensagem que nunca devemos arriscar, pois qualquer erro pode ser fatal.Pronto! Já fomos iniciados ao universo do medo e por mais que tenhamos desejo, curiosidade ou paixão, somos inevitavelmente puxados pra traz e induzidos a trocar o ideal , o desejo, o amor, a aventura, a descoberta e as conquistas, pela velha e conhecida segurança de navegar em águas tranquilas!
Temores, ameaças e a velha necessidade de nos sentirmos no controle, até mesmo do nosso futuro, pode nos paralisar e nos aprisionar numa espécie de limbo da vida terrena.
Nessa hora me vêm à mente algumas frases das antigas esposas infelizes, dependentes financeira e emocionalmente dos maridos que pregavam: ruim com ele, pior sem ele! A falta de opção era a única opção! O que fazer?! Conformar?! ...Resigmar?!...Permanecer?!...Que sina!...
Mas felizmente alguma coisa mudou!
Aprendemos que na vida temos que fazer escolhas e por melhor que elas sejam, sempre nos farão perder alguma coisa! Teoricamente falamos que saberemos pagar o preço...que pra ganhar temos que definir o que estamos dispostos a perder...e tudo mais que possa justificar a nossa vã filosofia, mas o fato concreto é que intimamente temos uma sensação registrada que perder é algo muito ruim.
Mas quem conseguiu chegar a uma certeza sem ter passado por muitas incertezas?
Num primeiro momento tudo é muito duvidoso, pois certificado de garantia só encontramos nos eltrodomésticos e mesmo assim eles falham.
Ás vezes você se depara com situações na vida que deseja dizer sim e lutar por aquilo que íntima e verdadeiramente possa fazer sentido para sua vida, mas você encontra, sempre em alerta, alguém para lhe chamar de ingênuo, sonhador, sem noção, se empenhando em lhe fragilizar e fazer com que você se sinta uma pessoa inadequada. Percebo o quanto isso acontece dentro de nós e se repete também na cultura de
algumas cidades que manifestam sua insatisfação e anseiam por uma mudança que pode vir a ser melhor.
O inconsciente pessoal e coletivo pode ainda alimentar a crença que mudar é perigoso e seguir repetindo infinitamente o paradigma que é melhor ficar com algo ruim e conhecidodo que investir em algo que realmente se deseja, mas é totalmente desconhecido!
É o medo do medo do medo!
Isso nos remete ao Chapeuzinho Amarelo, (uma releitura do clássico chapeuzinho vermelho), linda estória que Chico Buarque criou para falar do medo. A bela menina sofre de um mal terrível: sente medo do medo. Mas a medida que decide enfrentar o desconhecido (o lobo mau), ela descobre que o medo que ela sente é que dá tanto poder ao lobo. Aí ela decide enfrentá-lo e descobre que ele não é tão perigoso assim! Afinal, lobo sem medo fica sem graça e vira bolo. Então ela aprende a reconhecer, a enfrentar e passa até a brincar com os próprios medos. E o que acontece? - Ela se liberta e descobre a alegria de viver!
E quem não tem medo de alguma coisa?
Por que precisamos de tantas garantias de que estamos fazendo o que é certo, o que é bom e o que é justo?!
Certo, bom e justo pra quem?
O medo de fazer uma escolha e fracassar pode ser tão forte a ponto de congelar nossos desejos e nos paralisar! Estamos comprometidos com o sucesso ou com o nosso propósito?
Li, rapidamente num artigo, que os projetos maravilhosos de Walt Disney foram rejeitados nada menos que 77 vezes, mas ele confiava tanto nos seus sonhos que não desistiu e sua obra permanece de geração a geração se aprimorando e alimentando as fantasias de crianças e adultos do mundo inteiro que desejam vivenciar estórias que nos façam acreditar que a vida pode e deve ter sempre um final feliz.
Realmente entender as contradições pessoais e culturais e lidar com elas é um permanente aprendizado.
Algumas pessoas podem achar mais fácil manter uma vidinha sem gosto, sem graça e sem opinião, por falta de coragem de enfrentar o novo. E isso não é um julgamento, pode ser uma opção, ou talvez uma falta de condição!
Outras escolhem lutar pelos seus sonhos e decidem estar no centro de suas decisões correndo o risco que for necessário.
Trilhar caminhos mais desafiadores e tortuosos em vez de procurar o atalho, pode não ser a forma mais eficiente de alcançar um resultado, mas nos permite avaliar a caminhada, o nosso processo de ver, sentir e viver a vida de uma forma mais confiante.
Afinal, se quisermos encontrar, poderemos descobrir que dentro de nós ainda existe aquela criança que conserva a alegria, a ternura, não tem medo do novo e ainda mantém o entusiasmo que desperta a coragem de enfrentar o lobo mau!
E assim, ao nos defrontarmos com nossos medos poderemoss dar sinal verde para a felicidade e seguir adiante, cantando:
"Quem tem medo do lobo mau, lobo mau, lobo mau?!"
FIM
Claudete Machado Cerqueira
Publocado na Estilo Off - Novembro 2011
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