Sempre que viajo gosto de observar a relação do povo com a cidade em que mora.
As cidades podem ser apreciadas pela bela paisagem, pelo clima, pelo que têm a oferecer no comércio, na indústria, na saúde, na educação, na agricultura, mas tem algo que as tornam incomparáveis, que é o sentimento que seu povo nutre por elas.
Os norte-americanos ostentam tanto orgulho pela sua cultura que a encontramos estampada nos símbolos, nas peças de teatro e nos filmes que contam a história do povo americano. Conseguimos perceber esse sentimento quando passeamos por suas cidades e vemos sempre muitas bandeiras hasteadas em prédios públicos e particulares exibindo o orgulho nacionalista. Se vamos a Disney World notamos o quanto eles se esmeram em enaltecer e tornar inesquecível a história do seu País. As crianças estudam política nas escolas e é comum que os alunos saibam de cor o nome de todos os presidentes. Eles divulgam muito o turismo interno e valorizam a diversidade cultural americana transformando-a em belíssimo espetáculo, altamente rentável e que nos faz acreditar que aquele povo é mesmo “o máximo!”.
Algo similar percebi no filme “Cartas para Julieta” em Verona, na Itália, cidade em que se passa o romance ROMEU E JULIETA. A prefeitura local percebeu que mulheres desiludidas ou desesperadas com suas histórias de amor escreviam cartas para Julieta se lamentando, desabafando e pedindo aconselhamento. Se valendo disso, a administração municipal pôde detectar o potencial turístico que o romance shakespeariano lhe presenteou e então elaborou um belo projeto para transformar o apelo do romance em atração local.
Transformar essa subjetividade em algo que desse oportunidade de viver e reviver as várias facetas das histórias de amor, foi uma ideia sensível e inteligente que alcançou enorme sucesso e continua dando à cidade um certo encantamento com sabor de esperança e consequentemente adicionando muitos euros aos cofres públicos.
Sinto-me gratificada quando percebo a manifestação desse sentimento pelo povo de Itaperuna como em: Black Stone - banda de rock; o Itaperuna BlacKStones - jovem time de futebol americano; o Itaperuna Futebol Clube; a Associação Amigos Voluntários de Itaperuna - a Avaí; a Ita Mulher; os Leões da Pedra Preta - bloco carnavalesco e o já extinto blog Cadê a Pedra Preta? Aqui encontramos um sentimento que identifica as pessoas e expressa um pertencer. É como se elas dissessem: - Eu faço parte de tudo que acontece aqui! - Eu sou dessa cidade e essa cidade me pertence!
Tomara que estes exemplos possam ser motivo de inspiração para muitos outros movimentos que virão!
A primeira vez que me deparei com essa sensação tão integradora foi no baile de aniversário do Lions Clube. Todos comemoravam aquele momento demonstrando alegria, orgulho, amizade e união em prol da mesma causa. Foi lindo ver o quanto um ideal tão nobre e ao mesmo tempo desprendido pode unir as pessoas mais privilegiadas em função de ajudar as menos favorecidas da cidade!
Fiquei pensando que se pudéssemos estender esse sentimento despertando novas ações em outros grupos, poderíamos formar uma grande corrente do bem-estar, do crescimento e da melhoria da qualidade de vida de nossa população, patrocinada pela boa vontade do povo de Itaperuna sem ficar refém do poder público!
Itaperuna recebe de braços abertos grandes empresas que só procuram a prefeitura para saber o que o que ela tem a dar, mas depois que recebem seus grandes lucros nem sequer se lembram de retribuir à cidade um pouquinho do que receberam! Se essa visão mudasse e pensássemos em fazer o jogo do ganha-ganha (termo da neuro-linguística) certamente todos sairiam lucrando, pois quanto mais a cidade crescer, mais crescerão os lucros de todos que vivem e trabalham aqui.
Refletindo sobre nossa riqueza cultural logo me vem à mente a Sociedade Musical Itaperunense, os grupos folclóricos, os nossos artistas fantásticos, as bandas de rock (como o Corcel 74), as comidas típicas, as nossas fazendas históricas, as folias de reis, nossos artistas plásticos, escritores, sambistas, atores, artesãos que tão bem nos representam. Também não podemos esquecer de mencionar a qualidade do ensino público e privado e a postura comprometida dos nossos educadores. Pensar num símbolo ecológico da cidade me faz imaginar avenidas floridas de ipê amarelo, que além de beleza, trariam o frescor tão desejado ao nosso clima quente!
Que saudável é beber água mineral do nosso distrito de Raposo que tem suas águas com propriedades similares às águas de Vichy, na França! Desfrutar o prazer dos lugares paradisíacos como a bela ilha do Itapoã! Me imagino naquela margem de rio de uma praia fluvial, não seria delicioso?! Passear na beira-rio, num belo calçadão propício para caminhar, namorar, beber água-de-coco, observar a natureza e assistir ao espetacular voo das garças ao entardecer! E para acalentar nossos sonhos poderemos nos trajar com as melhores opções da moda-noite das confecções locais e dormir em lençóis que acariciam nossos corpos!
É tanta coisa boa que nem dá para enumerar!
Acredito muito no potencial de nossa cidade e principalmente nas características do nosso povo afetivo e acolhedor, mas acho que temos capacidade de desenvolver ações coordenadas, parcerias de sucesso, decorrentes da união das pessoas da sociedade para que possamos sentir o valor de nossas origens e bem cuidar daquilo que nos pertence: do nosso lugar!
Assim então, orgulhosamente, teremos motivos de sobra para podermos sempre dizer: SOU DE ITAPERUNA.
Claudete Machado Cerqueira
Publicado na Estilo OFF- Abril 2012
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